terça-feira, 1 de março de 2016

Hipócrita social

Dentro do teatro de operações da existência social, para alguns parecendo mais um palco de guerra, nos é muito fácil, e muitas vezes o fazemos, lançar culpas sobre o sistema, as instituições sociais e a própria sociedade pelo que somos. Pode até ser que em parte isto seja verdade, entretanto, tanto o sistema, quanto as instituições sociais ou mesmo a própria sociedade nunca agem por si só, somos nós, os seres humanos, os entes vivos e ditos racionais, os vaidosos, os petulantes, os egoístas, os mesquinhos, os falsos, os omissos, ou os fracos, quem agimos, ou nos omitimos, quem atuamos, que aceitamos ou transformamos, agindo dentro, pela ou “contra” a sociedade, pelo sistema ou pelas instituições sociais ou então “contra” estas.

Muitas vezes escondemos ou mascaramos nossos interesses pessoais, nossa omissão, nossa conivência e nossos medos, enredando nossos atos e comportamentos como reflexos que outorgados fossem pela sociedade ou pelas instituições sociais, quando no fundo somos nós mesmos quem agimos em prol deste mesmo sistema, uma vez que a sociedade somos nós mesmos. A menos dos pobres, dos miseráveis, dos excluídos, e dos explorados, que são sufocados, catequizados, domesticados, enganados, domados, amansados, pelo sistema, pelas próprias instituições, e que têm assim sua autoestima diminuída a quase nada, que perderam até a ousadia de pensarem por si mesmos, a todos os outros, eu não concebo desculpa alguma, pois que de alguma forma consentimos, aceitamos, compactuamos com o sistema como um todo.


Esperar que a sociedade se transforme a si mesma, transformando assim as instituições sociais, dando novas diretrizes políticas e econômicas, que ela mesma no bojo de sua existência realiza, é se iludir abertamente. Infelizmente uma transformação social somente será possível quando individualmente nos transformamos, e servimos assim de exemplos vivos para terceiros, ou então através de uma revolução formal. De resto é apenas fazer o tempo correr, agindo como todos os demais, mantendo, e muitas vezes reforçando, o próprio sistema, e brincando de fazer caridade com o que nos sobra, fazendo caras e expressões de pena, e demonstrando um hipócrita ar de humanidade que no fundo não temos, posto que estamos satisfeitos com o que temos ou almejamos ter mais ainda, e não temos a menor vontade de correr riscos pelos que nada possuem. No fundo, por mais doloroso mentalmente que seja, acabamos agindo como vermes sociais uma vez que nos locupletamos com o que podemos e fingimos sofrer pelos abandonados, desamparados, excluídos e miseráveis.

#inclusãointegral

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